A revolução da Internet das Coisas (IoT) prometia conectividade perfeita e funcionalidades inteligentes em nossos lares e vidas diárias. Porém, um padrão preocupante surgiu quando reestruturações corporativas transformaram milhares de dispositivos em pesos de papel caríssimos. Dois casos recentes destacam esse crescente 'cemitério IoT' com sérias implicações para segurança.
Em julho de 2025, a aquisição da Whistle Labs resultou na descontinuação imediata de todos os serviços de rastreamento para pets. Da noite para o dia, donos de animais viram seus rastreadores GPS de mais de US$100 se transformarem em enfeites de plástico, já que os novos donos cortaram o suporte aos servidores sem opções de migração. Paralelamente, usuários de hubs inteligentes Futurehome receberam um ultimato: pagar uma nova assinatura anual de US$117 ou perder todas as funcionalidades de casa inteligente após a falência da empresa.
Esses casos revelam falhas estruturais nos modelos de negócio IoT. Diferente da eletrônica tradicional, a maioria dos dispositivos inteligentes depende de serviços na nuvem para funções essenciais. Quando empresas mudam de dono ou vão à falência, a funcionalidade desaparece mesmo com o hardware intacto. Especialistas em cibersegurança alertam para múltiplos riscos:
- Vulnerabilidades abandonadas: Dispositivos com firmware sem suporte viram vetores de ataque permanentes
- Dados encalhados: Informações pessoais ficam presas em dispositivos incapazes de conectar a servidores desativados
- Explosão de lixo eletrônico: Obsolescência forçada contradiz objetivos de sustentabilidade
'A indústria IoT precisa de protocolos padronizados para desativação de serviços,' argumenta o analista Mark Chen. 'Atualmente, quando uma decisão comercial mata um dispositivo, deixa brechas de segurança que ninguém se responsabiliza por corrigir.'
Dispositivos com conexões de rede persistentes são especialmente preocupantes. A Kaspersky descobriu que 78% dos dispositivos IoT abandonados permanecem online mais de um ano após o fim do suporte, com 43% rodando versões de firmware com vulnerabilidades conhecidas - alvos fáceis para recrutamento por botnets.
A mudança para modelos de assinatura traz outros problemas. A transição abrupta da Futurehome para SaaS deixou usuários com hardware supostamente próprio agora sujeito a 'resgate'. 'Isso cria um precedente perigoso,' alerta a advogada Lisa Wong. 'Se empresas podem desativar hardware remotamente via bloqueios de software, isso mina direitos de propriedade dos consumidores.'
Soluções em discussão incluem:
- Padrões abertos: Protocolos interoperáveis para evitar dependência de um único fornecedor
- Legislação: Similar às leis de direito a reparo para garantir longevidade
- Arquiteturas descentralizadas: Alternativas baseadas em blockchain para reduzir dependência de nuvens centralizadas
Com a crescente penetração da IoT, esses casos deixarão de ser incidentes isolados. A comunidade de cibersegurança precisa agir antes que esse cemitério se torne um terreno fértil para vulnerabilidades que afetem redes inteiras. A segurança dos dispositivos não pode terminar quando os modelos de negócio mudam.
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